quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Revolução da fofa


Acordou numa revolta de arrancar os lençóis da cama e jogar pela janela. De jogar o colchão pela janela. Quase numa possessão. Forma bonita de começar o dia pensou.
Mantenha a fé! Acredita! Tudo vai dar certo! É só uma fase! Você vai ver que jajá passa!

Ela cansou de ouvir todas essas histórias. Ela ia ter fé em que?

Com os meses os e-mails foram diminuindo, diminuindo e se não fossem as corrente, os powerpoints, os clique aqui e doe pras crianças na África, Tantra Totem, a corrente positiva da luz violeta, a conjunção dos planetas que só ocorre de 237 em 237 anos, o poder das 11h11min, e a porra da foto do Buda que traz um dinheirinho extra ia se sentir completamente excluída da sociedade.

Recebeu da irmã um livro de auto ajuda, da mãe uma novena, da amiga a receita de um banho infalível pra abrir os caminhos e outro pra arrumar marido. Ouviu Vanusa. Saiu pra dnçar. Chorou. Deu muita risada. Fez tudo resultando em nada.

Era isso então.  Viu a luz. Tudo mentira.
Amor da certo. Se num deu certo não havia amor. De um lado ou do outro, ou mesmo dos dois.
 Os amigos estão aí pra fazer companhia e só. Ninguém ajuda ninguém.
A família, sem querer, quer mais é que você quebre a cara quando os seus planos são diferentes dos dela só pra depois te dizer: Eu avisei.
Deus tem mais o que fazer.
O jogo é esse. A vida é justa.  O que está errado só você pode consertar. E consertar sozinha. Sem esperar nada de ninguém, nem compreensão.
Recebeu a novidade como um balde de água gelada na cara e rapidamente se lembrou de que água gelada era o segredo de beleza de muitas mulheres. Então vamos aproveitar.
Saiu pra correr. Voltou , foi tomar um banho. Quando ficou pelada na frente do espelho percebeu seu corpo. Sim, havia quilos a mais. Sim a pele não era mais a mesma, ruguinhas apareciam, cabelos brancos apareciam, mas ainda assim era mais bonita do que muita gente. Mais bonita até do que muita gente mais nova se sentiu privilegiada. Era privilegiada. Bonita, culta, inteligente, divertida, sexy, tinha bom gosto e diversos talentos. E isso foi motivo mais do que suficiente pra se sentir feliz.
E foi quando, depois de muito tempo, ela experimentou, só com ela mesma, essa sensação boa e tranqüilizante é que ela viu a saída do buraco.
Descobriu que a felicidade era só dela e que ninguém , nem nada no mundo podia retirar isso da sua vida.
Ficar triste é um jeito disfarçado de pedir aos outros que tenham pena de você. Ficar triste é autocomiseração travestida de sentimento nobre.
Se lembrou de tudo o que gostava e que foi deixando pelo caminho para agradar a fulano, a sicrano e às opiniões de quem importa. Descobriu que quem importa não te julga.
Recuperou seus afetos pro baú do tesouro.
Lembrou de tudo que a irritava e decidiu abandonar de vez. Que toda irritação é peso, é bagagem indesejada. Limpou mailling, sites de relacionamentos, agenda do celular, gavetas.Se desembaraçou de lembranças, idéias aprendidas, conceitos e pessoas.
Aparou todas as abas. Jogou fora tudo o que guardou pensando que um dia talvez fosse útil. Esse dia “talvez” não existe.
Jogou fora toda e qualquer esperança antiga. Jogou fora toda e qualquer esperança consciente de que se não for pelo seu próprio esforço pessoal nada melhora nunca.
Reviu todos os conceitos positivistas infundados que estava de saco cheio de querer encarar como verdade universal. Ninguém tem a verdade. Quanto mais certeza uma pessoa tem  pode saber que menos ela sabe, mais insegura ela é e mais longe de um caminho ela se encontra.
Entendeu, finalmente, que pouca gente realmente se importa e mesmo quem se importa tem coisas mais importantes pra fazer. Que frases como: Boa sorte! Olha, eu  quero que você seja muito feliz!  Sinto muito carinho por você... na maioria , mesmo, das vezes não passa de  blablablá. Pra essas aprendeu a responder: Da mesma forma! e descobriu que funcionava como um espelho.
Que sarcasmo não é necessário, só serve pra fazer piada e pra usar com gente inteligente. Gente burra não tem senso de humor e toma tudo na vida como ofensa.
E esqueceu todos os seus sonhos porque sonho não leva ninguém a lugar nenhum.
Daqui por diante seria assim. Sem dor, sem sofrimento, sem esperança. Energias concentradas todas elas no fazer.
É pra matar um leão por dia? Matarei. Um só é fácil. Força pra isso  eu tenho.
E quer saber? Se a vida me der um limão espirro o suco no olho dela e fujo dessa desgraçada. Vou procurar uma vida mais doce. Eu posso não esar fazendo propaganda da L’oreal, mas eu mereço!
Fofa é a puta que o pariu.
E se jogou na vida nova, sem medo, sem culpa e sem tristeza... Pra sempre.

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