sábado, 18 de setembro de 2010

contra luz, contra a parede...

Daí um rapaz, desses como há vários, vai pra varanda fumar um cigarro, se admira com o por do sol... Oh!... E com a luz contra o muro. Vê uma lagartixa comum, dessas como há muitas nos muros. Ao cruzarem o olhar a lagartixa se esconde e o rapaz se aproxima, acessando no seu cérebro anos de Discovery Channel com maconha. Começa a pensar na estratégia da lagartixa para fugir de seus predadores. A lagartixa mantém a cauda a mostra, pois, se o predador pegar a cauda ela pode fugir. Então, olha de novo para o por do sol, traga o seu cigarro e, se volta mais uma vez pro indefeso animal acuado atrás da luminária. O pequeno réptil, inadvertidamente, faz um movimento gracioso com a cauda e a traz para outro ponto, revelando-lhe os olhos. Ao se deparar mais uma vez com as duas bolinhas pretas reluzentes o rapaz tenta se lembrar que estratégia seria essa que o Discovery não mostrou. De súbito a lagartixa come-lhe a cabeça... É... É assim... A vida é absurda deste tanto!

Segunda-Feira

O coração batendo dentro da cabeça. Um cigarro acendido no outro. O ônibus que não passa e a única certeza. Pensamentos confusos. Maconha, cerveja e cigarros. Discurso ensaiado no percurso. Fantasias de finais felizes onde os dois não acabam juntos. Portaria, campainha, entrada seca. E pela primeira vez desde que se conheceram não houve o beijo na boca de oi. Foi logo pra cozinha guardando cervejas na geladeira. Era preciso falar. A verdade é que, do nada, aquilo deixou de acontecer. Fim de carnaval. Confetes e serpentinas e purpurinas transformados em lama. Cheirando a mijo. O outro, o outro, o outro. Acusado de não se colocar no lugar do outro. A consciência tranqüila. O caso é que não vingaria. Não tinha a fibra. Covarde seria ficar. Ataques suportáveis, ofensas aceitas. Tudo por não discutir, pra preservar o que restou de: Feche os olhos, ouça a música, relaxe, me deixa fazer amor com você... Ah! As questões todas mais altas que esse convite. No último instante o choro sentado no sofá. Está morto. O ar na rua. Os amigos no boteco. A cara ainda inchada. A balada. O sol nascendo. Mudou a luz. Mudou tudo.