sábado, 14 de novembro de 2009

Amor no século XXI

Recebi um texto num powerpoint desses que nunca abro, e não sei porque esse eu abri. Quer dizer, sei sim. Ouvi um monte de besteiras sobre as receitas do amor no século XXI, e agora tenho certeza que esse powerpoint é a fonte de pesquisa de frases feitas e absurdas às quais fui exposto.
O texto é atribuído ao Flavio Gikovate, de quem eu me lembro ter ouvido falar em algum momento mas não tenho idéia de quem seja.
O texto diz que nos dias de hoje busca-se uma relação compatível com os tempos modernos. E que essa relação deve estar embasada na individualidade e blábláblá whiskassachet..
O que eu realmente não consigo entender é o que os defensores da individualidade entendem por individualidade. Porque o relacionamento que pra mim apresentaram como um relacionamento moderno, simplesmente é nada.
Eu não tenho como me comprometer a ser fiel, ou melhor, monogâmico, a alguém que não pretende me fazer companhia quando eu simplesmente estiver triste precisando de um colinho. A alguém que a qualquer minuto pode dizer não vou te encontrar esse final de semana porque estou com questões pessoais sérias e não quero te ver. Preciso ficar só.
Oi?
Porque se é pra ser companheiro quando se está de bom humor, ganhando bem, numa casa incrível, podendo fazer todas as baladas não precisamos de amor, ou de sentimento nenhum que não seja o desejo puramente sexual. Porque já que não haverá troca, cumplicidade, caminhar de mãos dadas, construir alguma coisa juntos, vamos só trepar e quando ficar chato, ou mesmo antes disso, a gente põe mais gente no meio e deixa de se ver. Não temos compromisso nenhum. A única coisa que nos liga é o prazer. E prazer é uma fome que nunca sacia.
Individualismo está sempre procurando as auto-coisas sem se ligar ao coletivo ou ao outro como participante da sua felicidade, ou do seu desenvolvimento ou do que quer que seja. O individualismo deixa tudo o que não for o eu descartável.
É mais ou menos o jeito de pensar do psicopata.
O texto diz ainda que relações diferentes dessas relações modernas são baseadas na dependência, na vontade de encontrar outra metade, despersonalização, e por aí vai. Auto lá. Com quem esse cara conversou pra escrever esse texto? Despersonalização? Dependência?
Pra mim isso tudo são desculpas de quem não quer se envolver. Mesmo. E vem com papo de moderno, de arrojado, de dinâmico. De não convencional.
Acredito que no amor vale tudo. Desde que combinado antes. Porque os modernos que eu encontrei queriam toda independência e individualidade, mas na hora de eu ser individualista e independente se tornavam criaturas do século retrasado, fazendo chantagens emocionais e tudo o mais que tanto condenam.
Ele diz ainda que a individualidade não tem nada a ver com egoísmo. Que o egoísta se alimenta do outro financeira ou moralmente. Pera ae, isso não é egoísmo. Isso é dependência.
O texto pega conceitos de pessoas que estão num momento difícil que estão carentes, que estão mal e coloca tudo isso como se fosse isso e só isso o que até então se entende por amor.
Mas auto lá. Esse conceito de se estar sempre feliz, sempre bem, sempre alegre, sempre pra cima é outro fingimento do mundo moderno.
O conceito de que tristeza é defeito, é outra mentira. Sentir faz parte da vida. Tudo sente. Tudo vibra.
Conheço modernos deprimidíssimos que acham que estão ótimos. Conheço modernos solitaríssimos que acham que porque têm 800 pessoas no Orkut e as mesmas 800 no facebook têm muitos amigos. Conheço modernos que passam os domingos sozinhos na frente de um computador. Conheço modernos que não sentem o vento ou o sol no rosto há muito tempo. Que não andam de bicicleta. Que não caminham. Que só comem produtos industrializados. Gente de plástico. Que se julga zen. E que vê defeito em tudo e em todos, mas que não enxergam o próprio umbigo embora esteja constantemente dando voltas às cegas em torno dele... Conheço modernos que não se aprofundam em nada e sua única questão concerne a si mesmo. Ao seu próprio futuro. Gente que não sabe dividir, porque não tem o que dividir. Gente vazia. Ávida por massacrar o outro por ver nele os seus próprios defeitos, e, não enxergar qualidades, porque não tem qualidades para espelharem no outro.
Então é isso. Se não for pra somar e dividir pra que namorar. Se não vou ter alguém pra segurar a minha mão num momento difícil, pra que namorar? Se vou seguir sozinho nessa estrada, pra que compromisso? Pois já disse o poeta se não vai me fazer companhia não me roube o prazer da solidão.
Quer saber, pra mim esse papo de individualidade moderna é balela. No amor a gente soma e divide em partes iguais pros dois. Quem não quer dividir que me deixe em paz. Mas se quiser trepar antes aceito. Pro sexo sou moderno. Pro amor sinto muito orgulho em ter nascido no século passado.
Meu ponto de vista.

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