quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ponderções a respeito de nada ou quase nada.


Quanto tempo dura uma memória que não se pretende guardar? Daquelas que vêm sem saudades nenhuma, só pelo hábito?
 Coisa estranha a memória. Às vezes tem vontade própria. Às vezes prega peça. Nunca me lembro o nome do filme, do ator, do cantor ou da música. Do diretor então nem se fala. Não me lembro o que vai na receita. Não me lembro muitas vezes de alguma coisa que no trabalho em algum momento eu pensei, não posso esquecer isso e preciso falar com fulano. E quando encontro fulano a única coisa que me vem é preciso te dizer uma coisa importante, mas agora não lembro o que é. E do nada, no meio do dia chega a informação tão importante da qual não me lembrava.
Tem um monte de verso, de poema, de prosa que eu ia adorar me lembrar. Conheci um ator que quando decora o texto nunca mais esquece. Eu nunca fui assim. É acabar a última apresentação e mágica. Lá se foi o texto pro mesmo lugar onde vão os guarda chuvas perdidos. Não acho nunca mais. Sempre morri de preguiça de voltar em cartaz por causa disso. Ter que decorar de novo.
E quando a gente pensa:  posso esquecer isso, daí parece que encalacra no neurônio. Não sai, não passa. Acho que só com o tempo, com a poeira cobrindo. Com coisas novas tampando.
 E me lembro agora que dezembro vai chegar. Já estamos em sagitário.  Já vem verão.
 Sem vontade de amar. Lembrei que nunca me senti assim.
Eu que sempre senti muito hoje tenho a ponta do meu nariz anestesiada. Não sinto nada. Já não dói, já não incomoda e mesmo a cicatriz que era certo que ficaria sumiu, antes da hora marcada. Outro dia lembrei de olhar lá e já não tinha. Não sinto nada nessa parte. Nada. Pode cutucar, pode mexer, pode mover pra lá e pra cá. Nada. O mais engraçado é que é o mesmo nariz. Não mudou. Olhando se diz que é o mesmo. Mas eu que sou aquele que nele habita sei.
Me ocorreu agora que a vida virou de ponta cabeça e todos os baldes entornaram. Tudo pelo chão. Passado que fiquei saí tentando encontrar panos para secar, não achei panos e olhando a água gostei dela ali, pelo chão, caminhando lentamente em todas as direções enquanto permanece no ponto aonde caiu primeiro.
É bom olhar pra água. Lembro que li isso. Dizem que estimula a intuição. Isso eu sempre tive muita. Mas pela minha própria vontade resolvo não acreditar nela. Um dedo podre pra o que diz respeito às intuições. Essa é uma coisa boa de lembrar. Talvez eu devesse tomar nota. Mas está aí uma coisa que eu sempre me esqueço. Cadê o papelzinho em que anotei?
 E uma intuição é só um raciocínio mais rápido que te leva a ler o final ainda no começo. Sem mágica. Só uma projeção racional da coisa toda. E disso eu também me lembro.
Preciso muito agora de você raciocínio. Preciso de você lógico e limpo. Preciso de você esperto e ágil.
Deve ser tão triste não ter consciência. Não saber o que é real. Sempre teve realidade demais na minha vida e ninguém me acredita quando digo. Tem gente que afirma mesmo que eu sou amalucado. Tem gente que ri na minha cara. Tem coisas que nunca vou esquecer.
Tem gente pra tudo. Tem gente legal, gente escrota, gente bonita e gente feia. Meu avo dizia que toda moça feia era boazinha. Senão era bruxa. Daquelas de nariz e queixo grandes. Com uma verruga na ponta de um ou de outro. Engraçado me lembrar de um avô que sequer conheci.
 E de repente me lembro do photoshop. Talvez tenham razão. Talvez eu seja maluco.
Quanto tempo dura qualquer coisa?  Ninguém sabe. Só uma coisa é certa. Passa
Esse texto, por exemplo, não faz sentido nenhum, mas eu tenho certeza que há de ter alguém que encontre nele aquilo que caiu dos baldes. Eu tinha dito que era água, né?
Lembrei.  Água é o que não é.

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