segunda-feira, 12 de abril de 2010

A triste e sofrida história do imbecil que se apaixonou por uma vaca sem coração


E fui andando pela rua vazia, o rosto latejando, o sangue pingando do meu nariz, a camisa coberta de sangue, o lábio inchado, cortado , sangrando também e nada disso doía tanto quanto a sua falta de lealdade, porque mil vezes você tivesse trepado com o Brasil e me tivesse sido leal, do que me sendo fiel tenha tido casos, seus, platônicos, com tantos quantos não posso precisar. A avenida vazia, os taxis não paravam, quem pararia prum sujeito com a cara quebrada, sujo de sangue, com um olhar apavorado, andando sem rumo como quem não acredita no abismo aberto diante de si. Além da humilhação, da vergonha de ter sido seu, de ter te apresentado a pessoas, de ter discordado de quem dizia que você não valia nada, além disso um grande sentimento de vazio insuportável, um silêncio seco no fundo da alma com cheiro metálico,  o medo de que essa sensação demorasse muito a passar, de que essa sensação não passasse jamais, a certeza de que não seria possível , jamais, ter aquela parte de mim que eu gostava tanto. O que morreu em mim ainda agonizando, me olhando nos olhos e me dizendo a: A culpa é sua! Eu me acusando a mim mesmo da merda do seu descuido, da sua falta de classe, de delicadeza, de ética, de qualquer nobreza que se possa atribuir a uma pessoa. Acordado por um soco bem dado na cara. Acordado pra ver sua verdadeira fuça, sua cara má, a única que você tem. O sangue pingando na minha roupa, o gosto de sangue na boca, o enjôo que me causava o sangue no estômago vazio , nada se comparava à náusea que a lembrança do seu gosto , do seu cheiro me causavam, a vergonha de ter tirado a minha roupa pra você , de ter dito eu te amo, de ter gemido e gritado de prazer, de ter eu mesmo aberto todos os meus desvãos, minhas gavetas, minhas janelas, ter te mostrado cada canto secreto, ter te deixado passear no meu palácio, ruído, incendiado, queimado, demolido por você, de propósito, por você de maldade, por você. Você é um monstro, um demônio, uma desgraça ambulante. Um erro travestido de gente. Uma doença. Um câncer. Uma catástrofe. Você é a ausência da poesia. A ausência da luz. A ausência do bem. Você é a coisa mais infeliz que pode acontecer a alguém. Lhe falta humanidade, lhe falta brio, lhe falta coragem, lhe falta graça. Você é a ausência total da graça. Em que buraco, em que cegueira eu me encontrava pra ter-te aceitado como luz? Em que condição eu estava pra ter te estendido a mão e te falado vem comigo?E ter te dito me leva agora que eu estou fraco demais pra caminhar? De onde eu tirei a infeliz idéia de acreditar em você, de confiar em você? Mas pago meus erros, andando agora nessa avenida aparentemente sem fim, essa reta vazia onde num para um taxi, deixando um rastro de sangue pela calçada. Bem cafona, bem a sua cara, bem a cara do seu mundinho perfeito, de pessoas perfeitas, de gente educada, careta e pobre de alma. E me dizem , mas que sorte que se revelou assim tão rápido, quando tratado no início o prognóstico é favorável. Não, não tive sorte nenhuma. Tive azar, profundo azar de te encontrar, profundo azar e burrice. Sim , admito fui burro. Burro. Um idiota. Uma besta  mesmo. Mas eu não quero que você morra. Quero que viva. Viva muito. Viva bem. Viva feliz. Viva com medo. Porque um dia, você pode escrever isso, anota aí numa das suas listinhas da sua vidinha mediocremente organizada, um dia quando você menos tiver esperando tudo vai começar assim, uma sombra vai encobrir sua janela, e daí, meu bem, nada será como antes e você vai se lembrar de mim, e quando esse dia chegar  onde quer que eu esteja eu sei que eu vou sorrir como que invadido por uma súbita alegria e vou erguer um brinde, porque eu sei que você não tem culhões pra dar conta.

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