quinta-feira, 29 de abril de 2010
sobre sexo, amor e chocolate
Certo, admito, o que estiver faltando em casa eu procuro na rua, invariavelmente. Admito essa vilania, sou um canalha, mas deixo isso bem claro desde o princípio a quem interessar possa. Por exemplo, se eu não receber atenção vou procurar chamar atenção fora de casa. Sim, um menino mimado. Mas quem, hoje em dia na minha casta, não o é? Temos um sistema de castas que só difere no indiano pelo fato de nesse nosso particular ser possível ascender com muito esforço, determinação e um bocado de sorte , é claro. Há também castas hereditárias, mas isso é um outro assunto. Explicado esse conceito canalha de castas seguimos adiante. Tá bom, discorde , bata no peito e diga que você nunca foi mimado. Que você nunca recebeu uma recompensa , não por merecimento, mas por amor, carinho, convenção. Quantas vezes você realmente mereceu todos aqueles presentes que papai Noel te deu? Bom... eu e papai Noel nunca fomos grandes amigos mas ainda assim não me excluo. Mas voltando ao assunto. O que fazer com essa informação? Amor é um alien que vc inventa e que se alimenta de si. Caso esse mecanismo de retroalimentação falte em algum momento ele passa a se alimentar do outro. (E no outro buscamos todos as mesmas coisas sendo diferentes apenas a embalagem.) Falha em dar amor quem não está amando. Não existem problemas exteriores que te façam esfriar, ficar distante, perder o interesse. Porque se você parar pra pensar tudo o que você ama é prioridade na sua vida. Então se a televisão ou a internet andam muito mais interessantes pode escolher um outro nome pra isso que está segurando o casal, porque não é amor. Não existiu nem uma vez em que eu buscasse fora alguma coisa que eu tivesse em casa, e, também afirmo que todas as vezes que isso aconteceu, o que estava claro é que a casa já não produzia mais os frutos desejados. Somos todos grandes nós. Por mais descomplicado que você pense que você possa ser , saiba que somos todos dificílimos. A gente se compreende porque a gente se conhece . Sabemos todos os nossos mecanismos mas o outro não sabe. E ao invés de tornamos o outro próximo, deixamos o outro cada vez mais outro, e esquecemos que no cerne somos todos muito próximos. Nos achamos claros como água porque nos inventamos a nós mesmos interpretando referências. Diga mais uma vez eu não sou assim e pode parar de seguir o texto daqui porque a coisa só piora. Todo mundo quer um jardim lindo. Ficamos combinados assim, se alguém tiver vontade de comprar a casa do vizinho a melhor coisa a fazer é liberar a venda da casa anterior. Mesmo que você nem compre a casa do vizinho. Não vai demorar muito pra você se interessar por gramado mais distantes. Bom, talvez você tenha pensado em sexo. Nesse tipo de traição, que é a mais desimportante de todas. Existem muito mais coisas que podem faltar na casa além do fruto proibido. Mas admito que é dele que eu preciso pra manter acesa a chama. E nem estou falando de quantidades, acrobacias, pirotecnias. Eu to falando de um sexo que só quem já amou conhece. O sexo que é melhor que chocolate. E que só é assim pelo fato de que vc confia que o outro não vai deixar você cair. Mas quando alguma coisa acontece nesse equilíbrio delicadíssimo do amor dá pra sentir. É tátil. E se for pra ter sexo só por ser sexo melhor agradecer à audiência, levantar a lona e procurar outro lugar pra montar o picadeiro. Não tem volta. É seco. Mas é assim. Amor e desejo vivem muito longe e muito perto .Entender isso é bem complicado, mas é fácil, demais, saber quando eles estão agindo em dupla. Não se engane, todo mundo sabe o que eu sei. E eu sei em mim e em você.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Um whiskey antes da balada
Não se preocupe não, meu bem. Não é nada demais. Eu só estou um pouco cansada mesmo. O discurso do mundo continua tão século vinte, e a gente sendo empurrada para o vinte e um desde que nasceu. Fica difícil não se cansar. Nada muda, nunca. O cardeal vem dizer que a pedofilia é coisa de veado, a esquerda vira situação e quer censurar a imprensa, o que importa no pros outros ainda é a sua reputação ilibada. E foda-se que você não se importe de trabalhar feito uma vaca 24 horas 7 dias na semana. Vão reparar mesmo é em quantos Jacks você entornou na noite da véspera da sua folga e querer saber pra quantos você deu, mesmo que nem você tenha a conta. E vem me falar em modernidade? Imagina, teoria da conspiração. Se houvesse mesmo uma teoria da conspiração deixaria o mundo um poço mais divertido, olha o ato falho... poço... é um buraco mesmo isso aqui. Sem graça, cheio de gente uó e mais um monte de escrotidõezinhas que nem vale a pena contar. Claro que não é todo mundo de todo mau. Mas se você nivelar... Se tivesse mesmo um Deus no alto olhando tudo ele já tinha feito um estrago nisso daqui, já tinha chovido fogo e enxofre em cima dessa merda. A menos que ele tenha um quê de sadismo e ache maneiro as criancinhas na África, as meninas na China, alguém com o cú cheio de bomba explodindo em um mercado. É cada um por si, meu bem. E não se pode mais confiar em nada. A superficialidade é a tônica dos relacionamentos. Me peça dinheiro , mas não me peça intimidade, aliás, não me peça nada, me dê... Me dê tudo o que você tiver. Me dê seu tempo, seu amor, sua dedicação, me dê seus sonhos. Enquanto estiver tudo divertido farei parte deles, na hora que eu me cansar é tchau e bença. Coloco tudo que você me deu no lixo e vou em frente. E é assim, meu bem. É assim que funciona. Nem amor em novela é mais bonito. Nem vilão de novela é mais confiável, eles se regeneram por causa da audiência. A mocinha bonitinha que não é atriz não tá agradando no papel de vilã. Ela se apaixona, sofre um pouco pra purgar os erros e se casa e é feliz pra sempre. Foi um padre quem me disse. A vida não é justa minha filha. Não, realmente ela não. A vida é uma luta desgraçada onde nem sempre os bons vencem. Quanto mais se globaliza, mais individualista fica. E você acha que eu vou me importar? Não. Vou seguir em frente. Penso na Scarlet O’hara e digo: I’ll never be hungry again... Quem me dera. Meu coração não é desses. Mas eu queria. Queria ser má, aliás, nem ser má. Queria mesmo não me importar, não ligar pra nada que não fosse eu mesma. Mas no fundo eu não consigo acreditar que essas pessoas são felizes. Não tem como. E a gente vê nos olhos tristes dessa gente que nunca vai encontrar aquilo que quer pelo simples fato de na verdade não quererem o que pensam que querem. Querer aquilo que viram na mídia... Odeio essa palavra... É um buraco negro pras almas. Ditando aquilo que você deve ser, desde os seus comportamentos, até as formas do seu corpo , passando pelas suas vontades, seus sonhos, seus sentimentos. Essa coisa que o homem construiu pro século XXI é muito estranha mesmo. Vejo gente chorando pelas vítimas do terremoto no Haiti e cagando prum amigo que tá do lado precisando de um abraço. Podiam criar logo o celular com teletransporte. Isso seria útil. Isso me aliviaria um pouco. Mas enquanto ele não chega vamos tomar mais um whiskey? Seu copo tá vazio já! Agora me conta. Me conta tudo. Quero saber de você. Existe qualquer coisa de novo sob o sol que eu não esteja sabendo? Qualquer notícia que me descanse me interessa. Qualquer coisa que me deixe com vontade de ver o dia nascer de novo e de novo e de novo!
segunda-feira, 12 de abril de 2010
A triste e sofrida história do imbecil que se apaixonou por uma vaca sem coração
E fui andando pela rua vazia, o rosto latejando, o sangue pingando do meu nariz, a camisa coberta de sangue, o lábio inchado, cortado , sangrando também e nada disso doía tanto quanto a sua falta de lealdade, porque mil vezes você tivesse trepado com o Brasil e me tivesse sido leal, do que me sendo fiel tenha tido casos, seus, platônicos, com tantos quantos não posso precisar. A avenida vazia, os taxis não paravam, quem pararia prum sujeito com a cara quebrada, sujo de sangue, com um olhar apavorado, andando sem rumo como quem não acredita no abismo aberto diante de si. Além da humilhação, da vergonha de ter sido seu, de ter te apresentado a pessoas, de ter discordado de quem dizia que você não valia nada, além disso um grande sentimento de vazio insuportável, um silêncio seco no fundo da alma com cheiro metálico, o medo de que essa sensação demorasse muito a passar, de que essa sensação não passasse jamais, a certeza de que não seria possível , jamais, ter aquela parte de mim que eu gostava tanto. O que morreu em mim ainda agonizando, me olhando nos olhos e me dizendo a: A culpa é sua! Eu me acusando a mim mesmo da merda do seu descuido, da sua falta de classe, de delicadeza, de ética, de qualquer nobreza que se possa atribuir a uma pessoa. Acordado por um soco bem dado na cara. Acordado pra ver sua verdadeira fuça, sua cara má, a única que você tem. O sangue pingando na minha roupa, o gosto de sangue na boca, o enjôo que me causava o sangue no estômago vazio , nada se comparava à náusea que a lembrança do seu gosto , do seu cheiro me causavam, a vergonha de ter tirado a minha roupa pra você , de ter dito eu te amo, de ter gemido e gritado de prazer, de ter eu mesmo aberto todos os meus desvãos, minhas gavetas, minhas janelas, ter te mostrado cada canto secreto, ter te deixado passear no meu palácio, ruído, incendiado, queimado, demolido por você, de propósito, por você de maldade, por você. Você é um monstro, um demônio, uma desgraça ambulante. Um erro travestido de gente. Uma doença. Um câncer. Uma catástrofe. Você é a ausência da poesia. A ausência da luz. A ausência do bem. Você é a coisa mais infeliz que pode acontecer a alguém. Lhe falta humanidade, lhe falta brio, lhe falta coragem, lhe falta graça. Você é a ausência total da graça. Em que buraco, em que cegueira eu me encontrava pra ter-te aceitado como luz? Em que condição eu estava pra ter te estendido a mão e te falado vem comigo?E ter te dito me leva agora que eu estou fraco demais pra caminhar? De onde eu tirei a infeliz idéia de acreditar em você, de confiar em você? Mas pago meus erros, andando agora nessa avenida aparentemente sem fim, essa reta vazia onde num para um taxi, deixando um rastro de sangue pela calçada. Bem cafona, bem a sua cara, bem a cara do seu mundinho perfeito, de pessoas perfeitas, de gente educada, careta e pobre de alma. E me dizem , mas que sorte que se revelou assim tão rápido, quando tratado no início o prognóstico é favorável. Não, não tive sorte nenhuma. Tive azar, profundo azar de te encontrar, profundo azar e burrice. Sim , admito fui burro. Burro. Um idiota. Uma besta mesmo. Mas eu não quero que você morra. Quero que viva. Viva muito. Viva bem. Viva feliz. Viva com medo. Porque um dia, você pode escrever isso, anota aí numa das suas listinhas da sua vidinha mediocremente organizada, um dia quando você menos tiver esperando tudo vai começar assim, uma sombra vai encobrir sua janela, e daí, meu bem, nada será como antes e você vai se lembrar de mim, e quando esse dia chegar onde quer que eu esteja eu sei que eu vou sorrir como que invadido por uma súbita alegria e vou erguer um brinde, porque eu sei que você não tem culhões pra dar conta.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Uma cadela.
Saudade é dor que dói doída.
Dói doida.
Doido de saudade.
Tambor no corpo todo.
Dói na boca, dói nos braços, na boca do estômago.
Dói do fundo pro raso.
Chega aos olhos.
Saudade é dor que escorre.
Que vaza.
Saudade é dor que mancha.
Saudade incomoda.
Saudade provoca.
Saudade zomba.
Saudade não tem hora.
Não tem razão.
Não tem vergonha, nem moral e nem princípios.
Saudade não respeita gostos, acordos nem pactos.
Saudade não obedece.
Saudade não tem descanso, não tem paradeiro.
O que ela tem são íris vermelhas.
Saudade não tem tempo.
Não tem clima.
No quente, no frio, na chuva ou na seca lateja.
Saudade é descompassada.
Não tem ritmo.
Não tem auge.
Não tem apoteose.
Saudade atravessa. Saudade atrasa.
Saudade sacaneia.
Saudade mente, engana.
Saudade é traiçoeira.
Saudade é disfarçada.
Saudade não tem destino.
Deságua no lago de onde veio.
Saudade não tem par. Saudade é sozinha.
Saudade nova ou velha, ela não enruga, não perde os cabelos, não dobra a coluna.
Saudade não tem varizes. Não tem fraquezas.
Não perdoa.
Saudade não mata. Olha , uma coisa boa.
Não tem educação.
Não telefona antes de chegar.
Saudade não tem conselhos.
Saudade é ignorante.
Saudade transforma o dia. Transforma a casa, a rua.
Inverte o giro da terra.
Saudade desterra.
Saudade não tem sossego. Não tem cura. Não morre.
Saudade não tem lugar.
Não tem coberta que aqueça, casaco de pele.
Saudade anda nua quando chove.
Acende fogueira em janeiro, na praia, de dia.
Saudade não se vexa. Saudade é um fantasma do tempo.
Saudade não é fantasia.
Saudade incomoda.
Saudade te faz rir de coisa sem graça.
Saudade tem efeito de cachaça.
Tonteia. Mistura a idéia .
Saudade faz mel que cola.
Que quase nunca é doce.
Saudade amortece.
Dá cansaço.
Saudade tem dias que chega cedo.
Saudade não diz quando parte.
Saudade às vezes faz surpresa.
Vem pras festas. Vem pras datas. Vem pras insônias.
Saudade cisma em ser várias.
Saudade te faz de otário.
Saudade te faz se arrumar.
Cortar cabelo.
Saudade te faz esperar.
Saudade te ilude.
Saudade reclama. Tem vontade.
Tem vez que não sabe o que quer. Mas saudade pede.
Saudade repete.
Saudade se tranca.
Saudade vai pra balada.
Saudade bebe.
Bebeu, fodeu. Saudade bêbada não pode ver celular.
Saudade sabe telefonar.
Saudade usa internet.
Já falei, faz cagada e depois repete.
Saudade vai a restaurante.
Saudade anda de ônibus, de avião, de bonde.
Se tentar se livra dela ela se esconde.
E volta num cheiro que passou na janela.
Num tom de azul.
Num eco que só existe no oco da sua cabeça.
Saudade zomba, saudade arromba.
Tem muitos talentos, muitas possibilidades.
Tem vezes que vira saudades. Aí são muitas correndo nos seus átrios.
Saudade do que foi, saudade do que nunca veio, saudade do que ainda vem.
É tinhosa essa saudade.
Saudade não desanima.
Saudade infesta. Contamina.
Te faz escrever bobagem. Rima na prosa.
Poema sem verso.
Saudade é todo um universo.
E eu rimando pra ela.
Saudade cadela.
Mas tudo bem. Senta aí, minha filha, daqui a pouco você passa.
Quer dizer, você cochila.
Saudade me faz querer ser estrangeiro, falar outro idioma.
Todo o mundo sente falta.
A gente sente saudade.
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