sábado, 9 de janeiro de 2010

For the time being


Estava conversando  com um amigo esses dias, ele tem 20 anos.  Ele me contava das suas preocupações e aflições com as coisas. Coisas essas que já me preocuparam e me afligiram, mas que hoje eu sei que não tem, lá, grandes importâncias.  Senti saudades da vida quando as minhas preocupações eram essas, e, a grande maioria delas, se não todas, se resolveriam quando chegassem as férias de dezembro. E então ele começou a me explicar conceitos de coisas seríssimas como a vida, a arte, o amor. Coisas que ele aprendeu, que ele entendeu. As coisas como elas são. Aí eu achei graça. Cheguei mesmo a rir, sem que ele notasse, claro, porque quando eu tinha 20 anos, e nem faz tanto tempo assim, eu seria capaz de voar no pescoço de alguém que se atrevesse a rir das minhas certezas. Foi então que me ocorreu que amadurecer é encher-se de dúvidas. É ver cair por terra os grandes conceitos, os grandes entendimentos. E deixar de se importar se o seu interlocutor compartilha das mesmas idéias que você. É encontrar a serenidade no não sei. Entender que as coisas mudam, que os conceitos se alteram e o que fazia sentido há quinze minutos , de repente, se torna outra coisa com a mudança da incidência de luz. É ter a liberdade de saber que tudo é dinâmico. Aceitar que, mesmo, os gostos se alteram. Até em relação às comidas, às cores, às roupas. Tem algum tempo eu notei que listas de favoritos não fazem sentido para mim. Prato preferido? Não sei, gosto tanto de tanta coisa e não há nada que eu não trocasse por outra coisa se fosse essa a minha vontade no dia. Amo churrasco, acho uma delícia, mas no dia que eu estiver morrendo de vontade de comer uma lasanha de berinjela, esperando por ela , uma picanha pode ser uma experiência frustrante. Qual sua cor favorita? Essa é uma pergunta que eu acho bastante idiota e tenho vontade de responder, pra que? Porque eu amo laranja, mas não gostaria que as paredes do meu quarto fossem pintadas dessa cor e hoje não usaria uma camisa cor de abóbora pra nada, a não ser que fosse um figurino. Quem é a mais bonita, ou o mais bonito? Não sei. Existe um nível de beleza onde esse tipo de discussão se torna inútil.  Você pode se sentir mais atraído por um e por outro, e atração física não segue lei, é uma resposta a um instinto. Acho que daí vem os gostos. Do instinto. Uma coisa que eu acredito, faz tempo, e vou continuar acreditando até que essa idéia mude ou seja esquecida é  a seguinte : se eu tenho vontade muito grande de comer alguma coisa é porque de alguma maneira meu organismo precisa de algo que ele encontrará lá. Isso pra mim é quase uma superstição. Talvez seja isso também uma experiência de amadurecimento. Saber usar seus instintos, desenvolvidos pelos anos de observação e prática de coisas ao longo da vida. Já tive muitas certezas absolutas. Hoje não tenho mais nenhuma. Acredito que, de certa maneira, a verdade é um conceito tão abstrato quanto o tempo. Tem a sua função no funcionamento das coisas, mas de fato sua existência está atrelada a outras coisas e se tudo muda porque ela se manteria constante. Há quem afirme que até o tempo mudou, que hoje ele passa mais rápido. Eu desconfio que não. Mas não vou discutir com ninguém por isso. Aprendi que discutir pra sustentar uma opinião, é também, uma grande perda de tempo. Melhor é ouvir as opiniões e ver o que se pode aproveitar delas. Manter-se sereno e ter dentro de si aquilo que pra você é real. Não quero parecer leviano em dizer que não tenho opinião em nada, nem que há coisas pelas quais não tenhamos que lutar. Mas saber quais as lutas precisam ser travadas é o que importa. E no mais sorrir. Fazer uma cara de surpresa e concordar com um: pode ser que você esteja certo. Hoje eu penso assim e sigo tranqüilo, acreditando que enquanto a pele desaba a consciência se expande. Que seja assim. E que a vida seja boa, em paz, sem ter obrigação de provar nada para ninguém. Sem ter que saber de tudo. Sem ter que entender tudo. Manter a alma cada vez mais ávida, cada vez mais aberta, cada vez mais capaz de absorver o que de novo vier pelo caminho.Se fechar numa idéia é encurtar o horizonte. Quero horizontes infinitos. Pra sempre.

2 comentários:

  1. Me identifico muito com seus textos e com o jeito que vc escreve.
    Espia o meu quando quiser.
    http://osomdaimagemnatrilha.blogspot.com/
    Expressar-se pela escrita é libertador.
    Com amor,
    Anand

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  2. ...também quero horizontes infinitos, assim o tempo nunca se esgotará nesta nossa busca contante da felicidade de cada dia!

    Bom dia!

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