quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um sentimento manco

Coisa mais estranha é sentir saudade.
Que sentimento esquisito. Sentir falta de... Parece um amor manco.
E quando elas se misturam e você nem sabe mais do que está sentindo falta?
Tem saudade gostosa de sentir. A gente lembra das coisas e vem um sorriso e como era bom. Tem saudade que é ruim. Não tem função a não ser doer.  Fazer vontade que passe. E não passa.
Tem saudade que é mentirosa. A maioria. Chega assim, querendo te convencer de que aquilo te faz falta e a gente sabe que não faz.
 É complexo o assunto.
 É um sentimento injusto, a saudade, porque não tem cura. Não tem remédio. Só se distrair pra esperar  passar. Porque quantas vezes a gente vai, encontra, visita a casa, e ela continua lá, no máximo ela dorme. Doida pra acordar de novo.  Então você sabe que ela só existe pra te incomodar.
Saudade não mata. Pensar o contrário  é bobagem.  Ela inferniza. Faz maldade. Acaba com um dia inteiro. Faz o estrago que a gente deixar.
E não é tudo assim no mundo do sentir? Os estragos e as benfeitorias são do tamanho que a gente deixa ser.
Fosse eu mais esperto não te deixava me estragar  tanto, Saudade.  Fosse eu mais esperto nem te deixava nascer. Fosse eu mais esperto...  E já estou rindo de mim. E já decido ficar mais esperto.
Do que é que eu sinto falta? Não tem nome de gente, nem de lugar... Talvez nome de coisa... Ah, sei lá... Só não me atrapalhe o dia, Saudade, que eu to cheio de coisas sérias pra resolver.

sábado, 9 de janeiro de 2010

For the time being


Estava conversando  com um amigo esses dias, ele tem 20 anos.  Ele me contava das suas preocupações e aflições com as coisas. Coisas essas que já me preocuparam e me afligiram, mas que hoje eu sei que não tem, lá, grandes importâncias.  Senti saudades da vida quando as minhas preocupações eram essas, e, a grande maioria delas, se não todas, se resolveriam quando chegassem as férias de dezembro. E então ele começou a me explicar conceitos de coisas seríssimas como a vida, a arte, o amor. Coisas que ele aprendeu, que ele entendeu. As coisas como elas são. Aí eu achei graça. Cheguei mesmo a rir, sem que ele notasse, claro, porque quando eu tinha 20 anos, e nem faz tanto tempo assim, eu seria capaz de voar no pescoço de alguém que se atrevesse a rir das minhas certezas. Foi então que me ocorreu que amadurecer é encher-se de dúvidas. É ver cair por terra os grandes conceitos, os grandes entendimentos. E deixar de se importar se o seu interlocutor compartilha das mesmas idéias que você. É encontrar a serenidade no não sei. Entender que as coisas mudam, que os conceitos se alteram e o que fazia sentido há quinze minutos , de repente, se torna outra coisa com a mudança da incidência de luz. É ter a liberdade de saber que tudo é dinâmico. Aceitar que, mesmo, os gostos se alteram. Até em relação às comidas, às cores, às roupas. Tem algum tempo eu notei que listas de favoritos não fazem sentido para mim. Prato preferido? Não sei, gosto tanto de tanta coisa e não há nada que eu não trocasse por outra coisa se fosse essa a minha vontade no dia. Amo churrasco, acho uma delícia, mas no dia que eu estiver morrendo de vontade de comer uma lasanha de berinjela, esperando por ela , uma picanha pode ser uma experiência frustrante. Qual sua cor favorita? Essa é uma pergunta que eu acho bastante idiota e tenho vontade de responder, pra que? Porque eu amo laranja, mas não gostaria que as paredes do meu quarto fossem pintadas dessa cor e hoje não usaria uma camisa cor de abóbora pra nada, a não ser que fosse um figurino. Quem é a mais bonita, ou o mais bonito? Não sei. Existe um nível de beleza onde esse tipo de discussão se torna inútil.  Você pode se sentir mais atraído por um e por outro, e atração física não segue lei, é uma resposta a um instinto. Acho que daí vem os gostos. Do instinto. Uma coisa que eu acredito, faz tempo, e vou continuar acreditando até que essa idéia mude ou seja esquecida é  a seguinte : se eu tenho vontade muito grande de comer alguma coisa é porque de alguma maneira meu organismo precisa de algo que ele encontrará lá. Isso pra mim é quase uma superstição. Talvez seja isso também uma experiência de amadurecimento. Saber usar seus instintos, desenvolvidos pelos anos de observação e prática de coisas ao longo da vida. Já tive muitas certezas absolutas. Hoje não tenho mais nenhuma. Acredito que, de certa maneira, a verdade é um conceito tão abstrato quanto o tempo. Tem a sua função no funcionamento das coisas, mas de fato sua existência está atrelada a outras coisas e se tudo muda porque ela se manteria constante. Há quem afirme que até o tempo mudou, que hoje ele passa mais rápido. Eu desconfio que não. Mas não vou discutir com ninguém por isso. Aprendi que discutir pra sustentar uma opinião, é também, uma grande perda de tempo. Melhor é ouvir as opiniões e ver o que se pode aproveitar delas. Manter-se sereno e ter dentro de si aquilo que pra você é real. Não quero parecer leviano em dizer que não tenho opinião em nada, nem que há coisas pelas quais não tenhamos que lutar. Mas saber quais as lutas precisam ser travadas é o que importa. E no mais sorrir. Fazer uma cara de surpresa e concordar com um: pode ser que você esteja certo. Hoje eu penso assim e sigo tranqüilo, acreditando que enquanto a pele desaba a consciência se expande. Que seja assim. E que a vida seja boa, em paz, sem ter obrigação de provar nada para ninguém. Sem ter que saber de tudo. Sem ter que entender tudo. Manter a alma cada vez mais ávida, cada vez mais aberta, cada vez mais capaz de absorver o que de novo vier pelo caminho.Se fechar numa idéia é encurtar o horizonte. Quero horizontes infinitos. Pra sempre.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Novo em folha


Começou o ano novo, o calendário virou e eu acho um tanto bonito dizer os anos 10, estamos nos anos 10 do século 21. Penso que em 80 anos as pessoas falarão dos Anos 10. Me vem a voz de uma professora de história falando numa sala de aula, ou qualquer coisa que o valha: Nos anos 10 do nosso século... Dá um certo ar vintage pra esses dias. Acho legal, acho bonito, acho interessante. Tomara que haja uma recuperação da graça, do glamour, da beleza, da arte... Mas aí me ocorre que a Beyoncé é o grande sucesso e subitamente me desanimo. Mas o ano está começando e ainda dá tempo pra salvar a década.
O ano começou e eu mandei um texto pra várias pessoas que eu gosto, e, na sequência fui atacado por um sentimento de culpa porque o texto não era meu e a maioria das pessoas me escreveu de volta me parabenizando pelo texto. Não foi minha intenção me apoderar dele, é um texto da Mafalda, que eu dei uma micro adaptada, lindo. Bom... Primeiro mea culpa do ano. O texto não é meu. Vocês que foram da leva do e-mail sem o crédito me perdoem, e, por favor, não deixem de me amar por isso. Um amigo ao ser avisado me respondeu dizendo que veria o que pode fazer por mim, quanto a deixar de me amar ou não.
Fora isso, bem, meu réveillon foi muito atípico. Pela primeira vez, em muitos anos, tantos que eu nem sei precisar, entrei sóbrio num ano novo. Completamente sóbrio. Vi o ano virar careta. Totalmente careta. Se atrair coisas boas continuarei assim, se não der nenhum resultado visível, ano que vem bebo do jeito que sempre fiz. Não tinha planejado isso, não que tinha sido uma resolução, só resolvi que ia ficar em casa com meus pais e qual é o propósito de beber com o pai e a mãe... Nenhum.
Espero que seja um ano produtivo, cheio de trabalho remunerado, remunerado eu disse, eu disse remunerado, que eu consiga economizar algum e que a vida seja doce. Super afim de um pouco de paz e alegria pra mim também. Quanto ao amor, não vou procurar, se ele quiser que me encontre. Passei anos atrás dessa pérola e veja você , a busca me  levou a lugar nenhum.
Então surge um balanço. Não encontrei o amor definitivo, não sou um sucesso na minha carreira, aliás, nem tenho uma carreira, fiz e faço tanta coisa e todas tão diferentes que sofro um profundo constrangimento ao preencher qualquer ficha quando me perguntam profissão. Acho que é um bom objetivo pra 2010. Definir uma carreira. Vou escolher a que pagar melhor, e tenho dito. Mas isso tudo eu to escrevendo porque eu quero dizer que apesar disso eu não estou deprimido, querendo chorar, arrancar os cabelos e a barba. É só arregaçar a mangas e ver de onde se parte para construir alguma coisa nova. E é assim que eu to agora. Vendo onde eu coloco meu pé pra dar o primeiro passo.
O que é bom de se amadurecer um pouco é que as coisas vão perdendo a importância gradativamente, acho que o sentimento imperativo da velhice deve ser bem nonchalant.
 Outra resolução de ano novo, acho que eu sou o único a resolver depois que o ano começa. Quero deixar ligada a tecla CAGUEI, acabo de me dar conta. Muito mais poderosa que o FODA-SE. O FODA-SE determina que vc deseje alguma coisa de ruim porque vc está desejando que a coisa, a pessoa em questão se dane, implica em sentir raiva. O CAGUEI não. Te liberta de qualquer relação com o fato, pessoa que te incomoda. Me lembrei do Amir Haddad, é melhor uma diarréia a uma prisão de ventre. Ótimo. A tecla CAGUEI estará on.
Bom, acho que basta de resoluções que eu não sou babaca de ficar aqui, ah, vou parar de fumar, vou ser mais legal, vou sei lá o que. Claro que eu sei que o cigarro só faz mal, que fede e blábláblá whiskas sachet. A respeito disso, preconceito contra fumante é uma palhaçada dessa gente politicamente correta de merda que vive se escondendo num mundinho cuzão de ser estampa de evento. Você que tem preconceito de fumante... Caguei que você não gosta do cheiro, mesmo, porque você só ta agindo assim porque é politicamente correto, não é porque você tem uma opinião formada, quem tem opinião formada não tem ódio de quem tem opinião contrária. Todo fundamentalista é atado mentalmente. Largo o cigarro quando eu puder.
2010 começou. Quero definir uma carreira, quero juntar uma graninha, e, pro resto, caguei.